18.10.06

 

Esclarecimento sobre o Uso e Abuso dos Anglicismos

Esclareço um ponto : nada tenho contra o uso do inglês como «lingua franca» dos tempos modernos. Julgo até que será o idioma mais apto a desempenhar esta função, por ser relativamente fácil de aprender e de falar, pelo menos num nível elementar suficiente para qualquer um se fazer entender e entender alguma coisa dos outros.

Nenhum outro idioma latino ou saxónico parece estar em melhores condições para tal. Com um vocabulário de 2000 palavras, já em inglês se pode sobreviver muito bem. Depois, a progressão já se torna mais penosa, principalmente no seu domínio escrito. Ainda assim, em qualquer outra língua culta do ocidente a aprendizagem é mais lenta e o seu domínio também.

Mas se nisto acordo, já no uso imoderado de termos ingleses na linguagem portuguesa, de uma forma abusiva e mesmo intolerável, como hoje vemos fazer, por muita gente, a maioria por pura pedantaria, isso, reprovo em absoluto.

Com esta tendência desleixada, o português corre o risco de se tornar numa espécie de crioulo, sem ofensa de quem usa este tipo de linguagem por razões histórico-culturais.

A situação é tanto mais grave quanto ela ocorre com o aparente entusiasmo dos próprios falantes naturais do português. Consta-me que no Brasil se verifica idêntico fenómeno ou talvez até mais agravado, pelo fascínio que a cultura norte-americana, sobretudo a cultura de massas, do mundo do espectáculo, diriam eles, do show-business, exerce sobre os brasileiros.

Muitas vezes, nem sequer se faz um pequeno esforço para procurar termos equivalentes em português. Por exemplo : precisaremos mesmo de dizer test-drive ou glamour ou fitness ou readable ou personal trainer ou coach ou mister ou lady ou gentleman ou back up ou table ou ranking ou label ou lay out ou screening ou printer ou delete ou paste ou log in ou user name ou pin ou... ou... ?

Não encontraremos, para todos estes termos ingleses, equivalentes vocábulos em português ? Não será isto tudo resultado de uma inaceitável preguiça mental, de mistura com um lamentável desconhecimento geral dos recursos da nossa Língua ?

É só contra isto que me insurjo. Podemos aprender quantas línguas quisermos e formos capazes, mas, por favor, comecemos por respeitar a nossa, estudando-lhe a Gramática, que não foi abolida, com particular atenção para a sintaxe e para a flexão verbal, sobretudo para certos modos e tempos, como os do conjuntivo. Não se estranhe a conjugação dos verbos na 2ª pessoa do plural, como também se deve estudar com maior cuidado o imperativo negativo, os verbos irregulares, os defectivos, com especial atenção para a especificidade do verbo haver, etc., etc.

Bem sei que tudo isto é trivial e que, antigamente, os alunos, na sua maioria, que terminavam a Instrução Primária dominavam estes assuntos, como saíam desembaraçados na Aritmética, sem hesitações na tabuada e resolvendo problemas quotidianos que envolvessem as várias operações fundamentais, conversão de unidades, equivalências, etc.

Porque parece isto hoje tão difícil de conseguir, não só na Instrução Primária como no Secundário e, às vezes, até nos Cursos Universitários ?

Como se deu tal degradação ? Quem responde por ela ?

Enfim, o tema torna-se praticamente inesgotável.

Sem pretensão de qualquer tipo de sabença, a ele voltarei. Espero, pois, ter esclarecido o sentido em que criticava o uso dos termos ingleses na nossa formosa Língua, «última flor do Lácio», na bela expressão de Olavo Bilac.

AV_Lisboa, 17 de Outubro de 2006

Comments:
Muito bem. Continuo do seu lado. Pelo menos as pessoas mais cultas são obrigadas a saber falar Português correctamente. E deverão ter orgulho em fazê-lo. Só lhes fica bem. O resto é parolice.
Já agora: embirro solenemente com o "spread", que agora passou, desnecessariamente, a fazer parte da gíria bancária. Para mim faz-me lembrar pasta gordurosa para barrar o pão (e que engorda imenso).
 
Alguem me pode dizer que significa "bricabraque"? Estou a ler "os Maias" , e non entendo iso nen encontro diccionario que o diga.
Obrigado a Portugal por Queiroz, dende Espanha, irmaos.
 
Para este leitor qrm, que suponho nuestro hermano, ou mesmo irmão galego, que lê Eça de Queiroz, em português, feito raro, entre espanhóis, mas não entre galegos, que o devem fazer saudosos de alguma identidade perdida, já na longínqua Idade Média, aqui lhe deixo o significado do vocábulo português, vindo do francês :

bricabraque , s.m. (do fr. Bric-à-brac). Conjunto de velhos objectos de arte, mobílias, roupas, etc. ; casa comercial que compra e vende esses objectos; objectos domésticos usados e de pouco valor; loja de adelo; loja ou tenda de ferro-velho.

in Grande Dicionário da Língua Portuguesa de José Pedro Machado.

Votos de boa leitura, porque o convívio com esse exímio artista da Língua Portuguesa que foi o nosso requintado Eça, costuma trazer sempre fartos benefícios e não apenas no conhecimento do idioma.

Volte sempre.
 
Obrigadísimo, D. Antonio.

Efetivamente, eu son galego.Irmaõ e hermano, e saudoso dese pasado, si.
Voltarei por esta sua casa, con muito prazer.
 
Tamén obrigado pola sua visita o meu blogue. E peço disculpas polo meu portugués defetuoso, mais fago o posibel por me fazer entender. Eu tampoco o estudiei.

Gostariame muito conhecer sua visión sob a relaçoes peninsulares, calquera que sexa seu criterio. Naõ ferirá sentimentos, pois os meus de irmandade con Portugal son profondos.
 
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